Quanto ao Homem, poderá dizer-se que é filho legítimo de Freud.
Nas décadas de 20 e 30, Mário de Andrade e Oswald de Andrade apropriaram-se dos conceitos da psicanálise. Esta apropriação visava uma possibilidade de exercer a escrita como uma expressão livre,
para manifestar aquilo que o inconsciente grita, nas palavras de Mário.
A idéia modernista, expressa por Sérgio Milliet, de realizar uma nova estética, a saber, quebrar tudo, destruir, matar, enterrar, cremar passava pela absorção de alguns conceitos da psicanálise.
Lembremos Oswald, em 1929:
E aqui chegamos a uma terceira figura que ligada a Nietzsche e Marx vem escancarando os abismos apocalípticos que engolirão o mundo do patriarcado, Freud. Os três homens (gênios) poderão indicar a verdadeira caminhada da autenticidade e da derrocada da exploração patriarcal.
Na época, a tríade filosofia-psicanálise-marxismo operava uma revolução no meio literário brasileiro. A referência a Freud é também encontrada na escrita de Sergio Buarque de Holanda. Em 1925, ele escreveu que a arte poética é uma declaração dos direitos dos sonhos. Só à noite se fica claro, complementou.
Em 7 de junho de 1923, Mário de Andrade escreve para Manuel Bandeira, falando de um poema:
Talvez saia o contrário do que digo. Mas é mais provável assim. Tenho o subconsciente em riscos elétricos, trovões, coriscos de tais idéias que me trabalham diariamente a inteligência. Il faut que cela sorte. Quando? Como? Que linda esta curiosidade do poeta que não sabe o que vai fazer. Que viagens as nossas, meu Manuel!
Uma carta primorosa, que traz a presença do inconsciente sob as vestes do subconsciente, termo ainda em voga nos anos 20. A psicanálise nos ensina que o inconsciente surge em um piscar palavras, como em riscos elétricos. Nesta mesma época, Vicente Huidobro escreveu que o poeta estende fios elétricos entre palavras, e alumbra, de repente, lugares desconhecidos e todo este mundo estala em fantasmas inesperados.
19 de maio de 2008